Sharon Olds

O objeto amoroso – Sharon Olds

O amor inventa o corpo que não é um objecto,

o caralho que não é uma coisa, o peito

íntimo como um amante.

o nobre animalzinho dos órgãos

que antes queríamos morrer a devorá-lo.

Eu estou a isolar a palavra amor do objecto,

arredada do corpo astral como comida

reluzente na travessa.

Estou a isolar a palavra amor do rapaz

com uma pele em que a luz mergulha

e o cabelo vermelho como bife na brasa.

Quando se debruça da sua janela como gelado derretendo-se

a minha boca saliva sal ardente.

Eu estou a isolar a palavra amor desse

desejo de morder.

Estudamos todos o objecto, aguardando o momento

em que a pessoa se torna uma coisa.

Na câmara escura vemos a mulher

voltar-se por um instante para um objecto com uma quantidade

específica de

sangue a brotar da boca.

O amor não representa esses objectos – é capaz de seguir uma mulher

por toda a vida até a morte e continuar ainda

a declará-la ela própria.

Eu estou a isolar a palavra amor dos vorazes comensais

e a colocá-la aqui na boca da mulher morta

como a cabeça de um galo de combate, para ser novamente sugada

para a vida.

*

Livro: Satanás Diz de Sharon Olds

Tradução de Margarida Vale de Gato, Antígona

Deixe um comentário